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Sob a balança do destino

Atualizado: 5 de jun. de 2024

Enquanto a circunstância tecelã tece com impressionante habilidade o tecido das nossas vidas. Somos jogados de um lado para o outro sem a chance de questionar. Nessa jornada incerta e assustadora nos vemos abandonados aos caprichos de uma deusa brincalhona. Então só nos resta rezar para cairmos em suas graças. Bendito é o homem em que a deusa circunstância o abandona sob a tutela do deus destino, pois então, esse se salvará.

 

Que desgraça caiu sobre Madriélle dy Sargônia por intermédio de seu amigo Belmont de Sevilha! Uma morte que reclama uma elucidação e o tic-tac de uma vida prestes a findar. Eis o pobre moribundo a depender das horas e dos dias que não esperam que as circunstâncias se movam a favor do condenado. Se existe realmente um segredo capaz de parar a crueldade das circunstâncias, essa é a hora de ser revelado, ou então, que o pobre homem sucumba sobre o cadafalso.

Leitura fácil e intuitiva, surpreendente, impactante e emocionante. Sob a balança do destino não decepciona. Uma história linda e com uma trama muito bem elaborada. Ainda tem o pano de fundo que lembra a antiga Grã-Bretanha com suas vilas, estalagens e beberrões em tabernas que amamos.



Capa Ebook
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SOB A BALANÇA DO DESTINO

De Josué Teodoro


Primeiro capítulo

 

 

No quarto sozinho, sem a menor vontade de abrir a janela, desejando não existir, estava Belmont de Sevilha, que mantinha seus olhos fixos na direção da parede como se vislumbrasse algum espectro sombrio. Havia algumas manchas de fato, mas não eram elas o motivo pelo qual mantinha fixado os seus olhos naquele ponto. Na verdade, Belmont estava refletindo sobre os últimos episódios que viveu ao cumprir um serviço para o Duque. No quarto com uma pena abandonada ao lado do tinteiro, alheio a sua realidade, ignorava a carta que escrevera recentemente. Parecia apenas esperar pelo destino cruel e irônico que o aguardava. Destino escrito com as penas da ignomínia e do sarcasmo. Suas mãos repousavam sobre suas coxas, e sua respiração era suave, ritmada e constante. Havia peso demais em sua consciência para ousar reagir, então apenas esperava que todo o infortúnio de sua servil culminasse no cadafalso.

Existe uma verdade que Madriélle dy Sargônia não sabe. Aquelas palavras cuidadosamente elaboradas que traziam grandes responsabilidades, bateram à sua porta. Aquelas palavras foram o que a trouxeram até esse momento lamentável. Infeliz do homem cujo instrumento de fala foi usado para transmitir tais palavras. Seu amigo de maior confiança, Monsieur Belmont de Sevilha foi o tal instrumento.

E quanto a seu filho, Ádrian dy Sargônia. Apenas um lamentável infortúnio ocasionou na extinção de sua frágil vida. Ninguém nunca saberá a quem atribuir o terrível ocorrido.

Por confiança e cumplicidade ao Rei, as palavras foram decoradas e repetidas até que o Duque se sentisse seguro. A satisfação de seu honrado líder era a única coisa que importava para o cavalheiro da corte. Belmont passou dias, meses e anos repetindo-as até a exaustão, e até que fluíssem naturalmente e sem esforço. A ordem era para que esperasse dois anos para a entrega da mensagem. E nesse tempo, recebeu toda atenção e honraria que qualquer homem busca dentro das suas funções junto à realeza. As ordens eram claras: Ele nunca devia escrever aquelas palavras em lugar algum, nem delegar essa tarefa a ninguém, nem as revelar sob nenhuma circunstância, nem mesmo sob ameaça de morte. Ele só deveria dizê-las para Madriélle dy Sargônia no devido momento.

 

Passou-se os dois anos e Monsieur Belmont de Sevilha repetia aquelas mesmas palavras em seu alojamento junto ao palácio. Elas ainda estavam lá em sua mente, vívidas como se as decorasse recentemente. Se permitiu pronunciá-las em voz mediana e as ouviu atentamente através do som rouco de seus lábios.


Antes que o dia amanhecesse, o grande portão foi aberto e deu passagem para o fiel soldado que galopou com seu cavalo pelas montanhas, vales e florestas levando um segredo que ninguém poderia imaginar. Ao chegar na prosaica moradia de Madriélle dy Sargônia, foi recebido por Ádrian dy Sargônia, seu filho, que veio correndo desajeitadamente ao seu encontro. O jovem gostava das armaduras dos soldados e dizia que logo teria a sua. E que lutaria para proteger o Rei, assim como Monsieur Belmont de Sevilha.


Mas para a infelicidade de todos, quando Madriélle dy Sargônia, com toda jovialidade que exalava de seu sorriso pronunciou as palavras de boas-vindas, o jovem Ádrian, por um breve descuido dos responsáveis, conseguiu sacar a espada de Belmont. Madriélle correu para tirar a arma das mãos do jovem enquanto Belmont descia as pressas do cavalo para evitar um acidente, mas foi tarde demais.


O jovem não suportou o peso do instrumento afiado e caiu sobre ele. A lâmina fria e assassina, silenciou o brilho da alegria que o pequeno Ádrian trazia consigo. Madriélle dy Sargônia não suportou tamanha dor e se lançou sobre o pequeno corpo sem vida. Belmont não sabia como agir. Estava de pé atônito, olhando a tragédia que acabava de cair sobre aquela mulher. “Mate-me!”, dizia a pobre mãe. “És por acaso um portador de dores? Complete o infortúnio arrancando o coração do meu peito. Por misericórdia, faça-me abraçar, mesmo sob o manto escuro da morte, o meu amado filho.”


Belmont engoliu e silenciou as palavras que precisava dizer, a despeito da importância que tinham. Mesmo sob juramento, não teve forças para cumprir a missão.


Os gritos de desespero da mãe infeliz ecoaram por todo aquele dia. Belmont não podia abandoná-la e nenhuma das suas palavras eram capazes de confortar aquele coração. Mas mesmo contra a vontade de Madriélle dy Sargônia e contrariando o Duque e o próprio Rei, permaneceu nos aposentos a fim de aplacar se possível, ou mesmo atenuar a desgraça que se abateu sobre aquela jovem. “Saia daqui!” Ela disse. “Se não pode fazer o bem de me enviar até meu filho, de nada vale a sua presença.”


As palavras que deveriam ser ditas estavam quase escapando de seus lábios, mas em nenhum momento achou que seriam apropriadas.


Os preparativos para o enterro do jovem Ádrian foram rapidamente arranjados e a notícia se espalhou até o vilarejo vizinho. E do vilarejo vizinho, não demorou muito para chegar ao Duque e, por conseguinte, ao Rei. E assim se deu início a fuga de Belmont para proteger a própria vida, pois todos diziam do soldado que matou o filho de Madriélle dy Sargônia. E se aquelas palavras que Belmont guardava na memória eram de fato reais, então ele precisava fugir o mais rápido possível.


Mesmo sabendo que não devia anotar as palavras em nenhum lugar, imaginou que a mãe cuidaria da roupa previamente selecionada e separada para o triste evento, e quis acreditar que o destino guiaria suas mãos até o bolso do pequeno paletó, e assim poderia ler a mensagem que deixaria ali.  Tendo feito isso, fugiu para o mais longe além dos oceanos.


Segundo capítulo

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