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O ovo de cristal

Atualizado: 5 de jun. de 2024

Sinopse: Nesta história de 1897, uma das pioneiras da Ficção Científica, o Sr. Cave, um comerciante de antiguidades, se depara com um misterioso cristal. Nele, é possível notar uma estranha luminescência e, afinal, um cenário exótico, com planícies, prédios, e criaturas desconhecidas.

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Audiobook Dramatizado


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O ovo de cristal


Havia, até um ano atrás, uma lojinha de aparência suja, no oeste de Londres, com um letreiro amarelo gasto em que se lia “C. Cave, Naturalista e Negociante de Antiguidades”. O conteúdo de sua vitrine era curiosamente variado: presas de elefante e um conjunto incompleto de peças de xadrez, miçangas e armas, uma caixa com olhos, dois crânios de tigres e um de humano, vários macacos de pelúcia comidos por traças (um segurava uma lâmpada), um armário antigo, algo que parecia um ovo de avestruz encardido, alguns equipamentos de pesca e um tanque de vidro vazio e extraordinariamente sujo. Havia, também, no momento em que essa história começa, um objeto de cristal, trabalhado na forma de um ovo e incrivelmente polido. Era para isso que dois homens olhavam do lado de fora da vitrine, um deles, um clérigo alto e magro, e o outro um jovem de barba escura e pele morena, com roupas discretas. O jovem falava e gesticulava com entusiasmo, parecendo ansioso para que seu companheiro comprasse o artigo.


Enquanto estavam ali, o Sr. Cave apareceu na loja, a barba ainda cheia de farelos de pão com manteiga de seu chá da tarde. Assim que viu os homens e o objeto de sua admiração, seu semblante endureceu. Lançou um olhar culpado por cima do ombro e, suavemente, fechou a porta dos fundos. Ele era um homem pequeno e velho, de rosto pálido e olhos peculiarmente azuis. Seu cabelo era de um cinza sujo, e vestia um sobretudo azul gasto, um chapéu de seda antigo e um sapato felpudo rente ao calcanhar. Ficou observando a conversa dos dois homens. O clérigo enfiou a mão no bolso da calça, examinou um punhado de dinheiro e mostrou os dentes, em um sorriso afável. O Sr. Cave parecia ainda mais deprimido quando entraram na loja.


O clérigo, sem cerimônias, perguntou o preço do ovo de cristal. O Sr. Cave, olhando nervosamente para a porta dos fundos, informou que custava cinco libras. O clérigo protestou, tanto para seu companheiro quanto para o Sr. Cave, que o preço era alto — era, de fato, muito mais do que o Sr. Cave pretendia cobrar quando recebeu o artigo —, e uma tentativa de barganha se iniciou. O Sr. Cave foi até a porta da loja e a abriu. “Cinco libras é meu preço”, disse, como se quisesse se poupar de uma discussão sem proveito. Assim que o fez, o rosto de uma mulher apareceu acima da cortina da porta que dava para os fundos, olhando com curiosidade para os dois fregueses. “Cinco libras é meu preço”, repetiu o Sr.

Cave, com um tremor na voz. O jovem apenas observava o Sr. Cave com atenção, até que falou: “Dê-lhe às cinco libras”.

O clérigo olhou para ele, para garantir que estava falando sério, e então olhou para o Sr. Cave de novo, percebendo que seu rosto estava branco. “Está muito caro”, disse o clérigo e, mergulhando a mão no bolso, começou a contar seus recursos. Ele tinha menos de uma libra, e apelou a seu companheiro, de quem parecia ser íntimo. Isso deu ao Sr. Cave a oportunidade de reunir seus pensamentos, e então começou a explicar de maneira agitada que o cristal não estava, de fato, à venda. Seus dois clientes ficaram naturalmente surpresos com isso, e perguntaram por que ele não havia dito isso antes de barganhar. O Sr. Cave ficou confuso, mas manteve sua história de que o cristal não estava mais à venda, pois um provável comprador já havia aparecido. Os dois, tratando esse comportamento como uma tentativa de aumentar ainda mais o preço, começaram a se retirar da loja. Mas, nesse momento, a porta dos fundos se abriu, e a dona de uma franja escura e olhos pequenos apareceu.


Ela era uma mulher corpulenta, de características grosseiras, mais jovem e muito maior que o Sr. Cave. Andava pesadamente, e seu rosto estava vermelho. “Esse cristal está à venda”, ela disse. “E cinco libras é um preço bom o suficiente. Não sei o que está pensando, Cave, ao recusar a oferta dos cavalheiros!”.


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