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Voz de Mãe - Li Couto

Atualizado: 19 de jun. de 2024

Sinopse: Momentos compartilhados não apenas encantam a infância da narradora, mas também moldam sua paixão por contar histórias, que ela, por sua vez, compartilha com suas próprias filhas. "Voz de Mãe" é uma homenagem à figura materna e ao poder reconfortante das histórias contadas com amor e dedicação.


Capa  Voz de Mãe
Capa Voz de Mãe

Umas das cenas mais marcantes que tenho da infância, eram as noites. Sentada, ao lado da minha mãe, que ficava entre mim e meu irmão, num sofá de couro preto, na sala. Somos três filhos. Naquele período, meados da década de 70, minha irmã ainda não havia nascido. Minhas pernas ainda não chegavam ao final do assento, já as de meu irmão iam até a metade dele. Ainda não era alfabetizada. Frequentava o antigo “pré-primário”, como era chamado naquela época.


Minha mãe é uma mulher agitada, mesmo nos dias de hoje. Sempre ocupada com alguma coisa. Quando éramos pequenos, a demanda de afazeres era enorme. Todos os dias, ela preparava o almoço, me arrumava para a aula, e, com carinho, fazia o lanche. Meu preferido era pão com goiabada e queijo branco. Como toda boa mineira, nossa mãe incutiu em nós o gosto pelas iguarias deste Estado, onde nasceu, cresceu, até se mudar para São Paulo e constituir família.


Estava sempre agitada, correndo com alguma coisa. Dava broncas, afinal, éramos duas crianças pequenas e barulhentas. Lembro bem de minha mãe, ora na cozinha, ora no tanque, ou mesmo encerando o piso da casa. Consigo me lembrar do aroma até hoje: cheiro de casa limpa. Ao final, mamãe ainda passava a enceradeira, para que o chão brilhasse ainda mais.

E tudo isso com sua habitual energia, sempre atenta aos nossos movimentos. Sempre foi uma mãe autoritária, rígida. Falava com firmeza, e ai de quem a desobedecesse! Com certeza levaria uns bons cascudos! Atualmente, sou capaz de entender sua atitude perfeitamente.


Ainda pesa o fato de as mulheres ainda carregarem o fardo da maior fatia dos afazeres domésticos, casa e educação dos filhos. Há uma mudança ocorrendo, é verdade. Não se pode ignorar a atual divisão nas despesas das novas famílias, entre homens e mulheres. Novos hábitos estão surgindo e ganhando força. Mas, na época de minha mãe, não funcionava assim. Além de cuidar da casa e dos filhos, ainda fazia o mercado. Tudo sem a ajuda do meu pai, que considerava já estar fazendo a parte dele.


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