A Mulher do Anacleto
- Public Play
- 21 de nov. de 2023
- 2 min de leitura
A história da mulher do Anacleto, que depois de morta, consegue se vingar do marido, o qual entregou-se à bebida e jogo, fazendo com que a mesma, abandonasse o lar e morresse em praça pública.
Conheça também a versão em
Audiobook Dramatizado

Este caso se passou com um antigo colega meu de repartição. Ele, em começo, era um excelente amanuense, pontual, com magnífica letra e todos os seus atributos do ofício faziam-no muito estimado dos chefes. Casou-se bastante moço e tudo fazia crer que o seu casamento fosse dos mais felizes.
Entretanto, assim não foi. No fim de dous ou três anos de matrimônio, Anacleto começou a desandar furiosamente. Além de se entregar à bebida. deu-se também ao jogo. A mulher muito naturalmente começou a censurá-lo. A princípio, ele ouvia as observações da cara metade com resignação; mas, em breve, enfureceu-se com elas e deu em maltratar fisicamente a pobre rapariga.
Ela estava no seu papel, ele, porém, é que não estava no dele. Motivos secretos e muito íntimos, talvez explicassem a sua transformação; a mulher, porém, é que não queria entrar em indagações psicológicas e reclamava.
As respostas a estas acabaram por pancadaria grossa. Suportou-a durante algum tempo. Um dia, porém, não esteve mais pelos autos e abandonou o lar precário. Foi para a casa de um parente e de uma amiga, mas, não suportando a posição inferior de agregada, deixou-se cair na mais relaxada vagabundagem de mulher que se pode imaginar. Era uma verdadeira "catraia" que perambulava suja e rota pelas praças mais reles deste Rio de Janeiro. Quando se falava a Anacleto sobre a sorte da mulher, ele se enfurecia doidamente :
— Deixe essa vagabunda morrer por aí! Qual minha mulher, qual nada ! E dizia cousas piores e injuriosas que não se podem pôr aqui. Veio a mulher a morrer, na praça pública; e eu que suspeitei, pelas notícias dos jornais, fosse ela, apressei-me em recomendar a Anacleto que fosse reconhecer o cadáver.